quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Os pronomes e as mãos
Estas mãos que me seqüestram
Que me embriagam de tanto me querer
Estas mãos que se vão e se vêm
Num meio que meio sem saber
Mãos de seda, de solda, de sou
Mãos de meias, de inteiras, de quase
Essas mãos que me prendem e me perdem
Que e pedem e me espreitam
Essas mãos que se vão
E se vão, vão nesse vão
Mãos de sóis, de luas, de imensidão
Mãos de meias, de inteiras, de tudo
Aquela mãos que me abrem
Que me escutam, que me auscultam
Aquelas mãos que se vão
Que jamais chegarão
Mãos de dúvidas, de sonhos, de solidão
Mãos de inteiras, de meias, de nada
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Poema para ninar Nica
Imagem: Arquivo pessoal
Quando você menos esperar
Quando a noite esfriar teus pés,
O vento incomodar
A tua lua volta. Ela sempre volta
Ela vai voltar
Tua lua é Virgem, irmã
A outra não importa onde está
Tua lua é vertigem, é sã
Mas o mar que é teu e de Iemanjá
Sempre haverá
Tua lua é teu olhar
O olhar dos olhos da Nica
A desejar
A esperar ‘drinque-tragando’ soslaiamente
A lua que vem pra ficar
Deita-te na tua virgem lua
Sonha teu sonho lunar
Deixa essa moça tão doce
Deixa, Nica
A lua te ninar
beijo em caixa alta
Imagem:http://miriancoelho.files.wordpress.com/2009/01/beijo-thumb.jpg

vou esperar que ele venha
quente e molhado
insistente e descarado
incensato o malvado
no rosto no pescoço na nuca
de frente de lado
aéreo terráqueo
na boca no lábio babado
o beijo o beijo o beijo
em caixa alta
esperado
domingo, 9 de agosto de 2009
Azul
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Hiperpressa
O cientista social Stephen Bertman entende por hipercultura a cultura contemporânea da pressa e da superficialidade. A ela importam menos a qualidade e a profundidade da apuração e do conhecimento dos fatos e mais a quantidade e sucessão de dados. Segundo ele (1998: 181):
A hipercultura é uma cultura que facilmente se torna maçadora e que rapidamente aturde as pessoas, uma cultura em que o divertimento se transforma e deixa de ser um momento ocasional de distração de pessoas ou de grupos e passa a ser uma forma de vida, que ocupa todos os interstícios entre os períodos de trabalho. Esgotando rapidamente as reservas de energia, uma hipercultura exige constantemente ser abastecida. Recusando-se a adquirir horizontes, por ser uma actividade intensa em termos de tempo, ela anseia antes por ser injectada com doses de estímulo a curto prazo. Por que a hipercultura é uma sociedade constituída por “corpos atarefados”, numa ânsia frenética de acompanharem o passo, não só por razões de necessidade econômica mas por motivo de preferência psicológica. O tempo – desorganizado, desperdiçado – pesa fortemente sobre a sua cabeça. Ela pode exigir ser libertada de algumas tarefas específicas, mas preenche logo o vazio da inércia com mais atividade ainda.
A partir desse ponto é possível assimilar os precedentes para localizarmos na sociedade humana contemporânea o alheamento em relação ao outro, ao mundo e as razões porque passamos a correr sem saber mesmo o porquê.
BERTMAN, Stephen. Hipercultura: o preço da pressa. Tradução Ana André. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Amasso

Se você soubesse
Se eu te falasse
Se eu te mostrasse
E se eu te amasse?
Se você me amasse
E se me falasse
E se me mostrasse
E se eu soubesse?
Se a gente quisesse
Se a gente falasse
Se a gente soubesse
Que a gente se ama (sse)
Que a gente falasse
Que a gente soubesse
Que a gente quisesse
E que se amassasse
Amores com notas de rodapé
que me confidenciaram tanta coisa nesses dias
Amores com notas de rodapé
São amores?[1]
Amores com notas de rodapé
São amores?[2]
Amores com notas de rodapé
São amores?[3]
Amores com notas de rodapé
São, de certo, amores[4]
Amores com notas de rodapé
São incertos amores[5]
Amores com notas de rodapé
São flores, são dores[6]
Amores de com notas de rodapé
São, então, amores?[7]
[1] Há rumores de que, apesar dos dissabores
São, sim, de fato, amores
[2] Há defensores. Mas como há nesses amores também rancores,
Conta-se que não são assim, tão decerto, amores
[3] Por conta dos seus pudores, dos seus temores, dos seus rubores
Diz-se que não sejam, de fato, amores
[4] Se os seus rodapés são notas de flores
Se os seus pés colorem as cores
[5] Se os seus rodapés são notas de horrores
Se os seus pés borram as cores
[6] Se os seus rodapés são notas de flores
Mas pisadas incertas desbotam as cores
[7] São sempre, certamente, amores
Quando ao pé, aqui, escutas meus segredos mais desoladores