quinta-feira, 26 de novembro de 2009

As unhas, a distância e o tempo

Texto e foto: Enio Moraes Júnior



















Sutis, prolongam o toque
Maliciosas, tocam o tesão
Mudam tamanho, cor, admiração

Roídas e curtas, longas e coloridas
Esperam ansiosas chegadas e partidas
Cintilam ao vento ou rezam escondidas

Ousadas, arranham as costas, o coração
Cruéis, beliscam. E julgam ter razão!
Diáfanas, teimosas, milhares
Caras de futuro, de todos os lugares

Cronômetros de pés e mãos
Emergem dos dedos e sem consentimento
Continuam a brotar, a calar, a lutar
Sempre altivas na distância e no tempo

Os pronomes e as mãos

Enio Moraes Júnior

Estas mãos que me seqüestram
Que me embriagam de tanto me querer
Estas mãos que se vão e se vêm
Num meio que meio sem saber
Mãos de seda, de solda, de sou
Mãos de meias, de inteiras, de quase

Essas mãos que me prendem e me perdem
Que e pedem e me espreitam
Essas mãos que se vão
E se vão, vão nesse vão
Mãos de sóis, de luas, de imensidão
Mãos de meias, de inteiras, de tudo

Aquela mãos que me abrem
Que me escutam, que me auscultam
Aquelas mãos que se vão
Que jamais chegarão
Mãos de dúvidas, de sonhos, de solidão
Mãos de inteiras, de meias, de nada

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Poema para ninar Nica

Por Enio Moraes Júnior. Com carinho, para Enny
Imagem: Arquivo pessoal














Quando você menos esperar
Quando a noite esfriar teus pés,
O vento incomodar
A tua lua volta. Ela sempre volta
Ela vai voltar

Tua lua é Virgem, irmã
A outra não importa onde está
Tua lua é vertigem, é sã
Mas o mar que é teu e de Iemanjá
Sempre haverá

Tua lua é teu olhar
O olhar dos olhos da Nica
A desejar
A esperar ‘drinque-tragando’ soslaiamente
A lua que vem pra ficar

Deita-te na tua virgem lua
Sonha teu sonho lunar
Deixa essa moça tão doce
Deixa, Nica
A lua te ninar

beijo em caixa alta

Por Enio Moraes Júnior
Imagem:http://miriancoelho.files.wordpress.com/2009/01/beijo-thumb.jpg

vou esperar que ele venha
quente e molhado
insistente e descarado
incensato o malvado
no rosto no pescoço na nuca
de frente de lado
aéreo terráqueo
na boca no lábio babado
o beijo o beijo o beijo
em caixa alta
esperado

domingo, 9 de agosto de 2009

Azul

Texto e foto: Enio Moraes Júnior











De onde vem
Esse céu tão bonito
Esse mar infinito
Fico-fico a fitar

Imagino que vem
De um lugar meio assim
Bem perto de mim
Tão-tão perto a me olhar

Se sequer consigo imaginar
Vejo, imóvel, brilhar
Azul-azul céu e mar

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Hiperpressa

O cientista social Stephen Bertman entende por hipercultura a cultura contemporânea da pressa e da superficialidade. A ela importam menos a qualidade e a profundidade da apuração e do conhecimento dos fatos e mais a quantidade e sucessão de dados. Segundo ele (1998: 181):

A hipercultura é uma cultura que facilmente se torna maçadora e que rapidamente aturde as pessoas, uma cultura em que o divertimento se transforma e deixa de ser um momento ocasional de distração de pessoas ou de grupos e passa a ser uma forma de vida, que ocupa todos os interstícios entre os períodos de trabalho. Esgotando rapidamente as reservas de energia, uma hipercultura exige constantemente ser abastecida. Recusando-se a adquirir horizontes, por ser uma actividade intensa em termos de tempo, ela anseia antes por ser injectada com doses de estímulo a curto prazo. Por que a hipercultura é uma sociedade constituída por “corpos atarefados”, numa ânsia frenética de acompanharem o passo, não só por razões de necessidade econômica mas por motivo de preferência psicológica. O tempo – desorganizado, desperdiçado – pesa fortemente sobre a sua cabeça. Ela pode exigir ser libertada de algumas tarefas específicas, mas preenche logo o vazio da inércia com mais atividade ainda.

A partir desse ponto é possível assimilar os precedentes para localizarmos na sociedade humana contemporânea o alheamento em relação ao outro, ao mundo e as razões porque passamos a correr sem saber mesmo o porquê.

BERTMAN, Stephen. Hipercultura: o preço da pressa. Tradução Ana André. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Amasso

Foto e texto: Enio Moraes Júnior



Se você soubesse
Se eu te falasse
Se eu te mostrasse
E se eu te amasse?

Se você me amasse
E se me falasse
E se me mostrasse
E se eu soubesse?

Se a gente quisesse
Se a gente falasse
Se a gente soubesse
Que a gente se ama (sse)

Que a gente falasse
Que a gente soubesse
Que a gente quisesse
E que se amassasse

Amores com notas de rodapé

Para meus queridos amigos Lucia, Rejane, Sérgio e Tereza,
que me confidenciaram tanta coisa nesses dias


Amores com notas de rodapé
São amores?[1]

Amores com notas de rodapé
São amores?[2]

Amores com notas de rodapé
São amores?[3]

Amores com notas de rodapé
São, de certo, amores[4]

Amores com notas de rodapé
São incertos amores[5]

Amores com notas de rodapé
São flores, são dores[6]

Amores de com notas de rodapé
São, então, amores?[7]

[1] Há rumores de que, apesar dos dissabores
São, sim, de fato, amores
[2] Há defensores. Mas como há nesses amores também rancores,
Conta-se que não são assim, tão decerto, amores
[3] Por conta dos seus pudores, dos seus temores, dos seus rubores
Diz-se que não sejam, de fato, amores
[4] Se os seus rodapés são notas de flores
Se os seus pés colorem as cores
[5] Se os seus rodapés são notas de horrores
Se os seus pés borram as cores
[6] Se os seus rodapés são notas de flores
Mas pisadas incertas desbotam as cores
[7] São sempre, certamente, amores
Quando ao pé, aqui, escutas meus segredos mais desoladores