sábado, 22 de dezembro de 2007

Os amigos, as estações e as razões do amor



As taças: diferentes cores, diferentes formas (Foto: Enio Moraes Júnior)




Enio Moraes Júnior

Para Aristóteles, filósofo grego que viveu nos anos 300 a.C., a amizade é o que há de mais fundamental na existência humana, uma vez que os bens conquistados ao longo da vida dos indivíduos, como o dinheiro e o poder, não poderiam ser compartilhados sem a presença dos amigos. Para ele, a amizade é essencial para a socialização e para a celebração da própria vida.
Também segundo Aristóteles, a amizade implica uma tal deferência humana que exige que o amigo aja em relação ao outro amigo da mesma forma que age em relação a si mesmo. A amizade, nessa concepção, possui um forte teor de responsabilidade em relação ao outro.
Perceber esse sentido e o valor das amizades foi talvez a mais nobre descoberta que pude fazer em São Paulo e talvez o principal aprendizado que tive com os paulistanos – daqui ou de outros lugares do mundo – que aqui conheci.
O musical norte-americano Rent, sucesso da Broadway que foi transformado em filme e está disponível em DVD (Rent / Columbia: EUA, 2005), imortalizou a canção Seasons of Love que, mais que celebrar o amor romântico, canta as verdadeiras amizades encontradas, desencontradas, reencontradas e enfim, vividas em meio a dúvidas, tristezas, doenças, festas e alegrias.
A canção é uma composição de Jonathan Larson e anuncia:

It's time now to sing out
Tho' the story never ends
Let's celebrate
Remember a year in the life of friends
Remember the love

Em português seria algo como:

A hora é agora
Essa história não tem fim
Vamos celebrar
Lembrar um ano na vida dos amigos
Lembrar o amor

Para Aristóteles, a amizade é diferente do amor porque este pode ser sentido também por coisas e objetos, mas amizade, só por gente. E mais: enquanto o amor está associado à afeição e ao desejo, a amizade significa compromisso, o sentimento de compartilhar. São as estações e razões para as amizades, assumir compromisso com gente. É exatamente esse sentimento que em Rent é chamado amor: o amor da alma, a amizade.
Numa cidade como São Paulo, onde as pessoas silenciam-se entre si com os seus MP3, MP4 e iPods, os amigos são uma oportunidade para a vida comunitária, a troca de idéias e solidariedade. Em meio às pedras e vidros, concreto e carros em frenético movimento, sentimentos que socializam, humanizam e permitem compartilhar as conquistas – como bem poderia dizer Aristóteles – continuam a ser um bom antídoto contra os MP3, MP4 e iPods que nas grandes cidades servem para acomodar a trilha sonora de pessoas que correm das pessoas para encontrar a solidão.
Que os sons que São Paulo produz continuem sendo doce aos meus ouvidos. Que em 2008 o Eduardo, o Anchieta, a Tereza, a Alessandra, o Júlio, o Valnei, a Márcia, o Marcos, a Ana, a Adriana, a Gislaine, a Fabiana, a Andréa, o André, o Fernando, o Murilo, a Rita, a Camila, o Miguel, a Valéria, o Ícaro, o Vinícius, a Carla, o João, a Cris, o Adriano, a Sônia, o Paulinho, a Tânia, o Coelho, a Amália, o José, o Abides, a Lícia, a Cristiane, a Lúcia, o Sérgio, a Helena, a Cida, a Ciça, a Rejane, a Loverci, a Clau, o Wagner, o Carlos, o Robson, minha família (todos: os Vieira, os Marinho e os Moraes de todas as gerações) e os demais amigos e parentes - desse e de outros mundos, em especial o André Florêncio e minhas avós Noêmia e Pastora - continuem entoando comigo as canções das estações e das razões do amor e da amizade.
Que no ano que está chegando possamos chorar juntos, celebrar, sorrir e lembrar mais outros anos na vida dos amigos, as amizades e o amor. Um brinde aos meus amigos, às estações e razões para as amizades!