sexta-feira, 12 de junho de 2009

Hiperpressa

O cientista social Stephen Bertman entende por hipercultura a cultura contemporânea da pressa e da superficialidade. A ela importam menos a qualidade e a profundidade da apuração e do conhecimento dos fatos e mais a quantidade e sucessão de dados. Segundo ele (1998: 181):

A hipercultura é uma cultura que facilmente se torna maçadora e que rapidamente aturde as pessoas, uma cultura em que o divertimento se transforma e deixa de ser um momento ocasional de distração de pessoas ou de grupos e passa a ser uma forma de vida, que ocupa todos os interstícios entre os períodos de trabalho. Esgotando rapidamente as reservas de energia, uma hipercultura exige constantemente ser abastecida. Recusando-se a adquirir horizontes, por ser uma actividade intensa em termos de tempo, ela anseia antes por ser injectada com doses de estímulo a curto prazo. Por que a hipercultura é uma sociedade constituída por “corpos atarefados”, numa ânsia frenética de acompanharem o passo, não só por razões de necessidade econômica mas por motivo de preferência psicológica. O tempo – desorganizado, desperdiçado – pesa fortemente sobre a sua cabeça. Ela pode exigir ser libertada de algumas tarefas específicas, mas preenche logo o vazio da inércia com mais atividade ainda.

A partir desse ponto é possível assimilar os precedentes para localizarmos na sociedade humana contemporânea o alheamento em relação ao outro, ao mundo e as razões porque passamos a correr sem saber mesmo o porquê.

BERTMAN, Stephen. Hipercultura: o preço da pressa. Tradução Ana André. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.