sábado, 2 de agosto de 2014
Berlim
A natureza. Ah, a natureza... Sempre motivadora, ela é sempre melhor quando está alinhada com a natureza humana. Talvez seja a mistura dessas duas naturezas que me encanta tanto nas cidades. Berlim é um desses encantos. Urbana, metropolitana, a cidade que tive o prazer de conhecer há poucas semanas mistura gente, festa e muita imagem. Uma cidade para ir e para voltar. Fotos: Enio Moraes Júnior
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Eu liofilizo, tu liofilizas
Enio Moraes Júnior
Imagem: www.nescafe.com
As palavras e os encontros têm magia. Liofilização. Adorei essa palavra, foi paixão a primeira vista. Ouvi pela primeira vez da boca de uma amiga que disse que provavelmente eu já conhecia o seu significado das aulas de química. Acontece que sempre fui muito mau aluno nas disciplinas das Ciências Naturais, a que eu costumava me referir como se fosse uma tríade que agia contra mim durante a vida escolar: física-quimica-e-mateMÁtica. Assim, não estranhei que, se é que eu a conhecia, não lembrasse seu significado.
Precisei de um encontro com alguns amigos químicos para decantar melhor essa palavra. Liofilização! Achei a palavra tão bonita que desceu mais suave no meu paladar do que um bom vinho português que eu estava bebendo naquela tarde de domingo. “Liofilizar é transformar algo líquido em pó”, disse um deles. “Nescafé”, disse outro. “No laboratório fazemos isso”, disseram também. “Se você quiser, poderá ir lá conhecer como funciona”, propôs outro.
Mas mais do que conhecer, de fato, qual o significado daquela química, a mim me interessava mais tergiversar sobre a questão, filosofar sobre a possibilidade de algo concreto, sólido, poder virar pó, esvaecer.
Incrível maravilha da química! O vinho descia mais suave ainda. Adorava tudo, cada explicação, cada imaginação. Comemorei a possibilidade de ver o processo, mas adorei sobretudo a palavra. Enquanto aquele grupo de amigos falava das possibilidades liofilizicistas, fiquei em silêncio, conjugando o verbo: Eu liofilizo. Tu liofilizas. Ele liofiliza. Mas seria possível liofilizar gente, pessoas? É possível liofilizar os amores, as paixões?
Nós liofilizamos, vós liofilizais, eles liofilizam. Comecei a viajar numa liofilosofia. Pensei o quanto essa palavra é rica, o quanto a simples ideia, tão simples, de uma reação química pode ser rica, despertar pensamentos e possibilidades.
Se eu pudesse liofilizar alguém, quem eu liofilizaria? De quem eu decantaria toda a água e transformaria em pó? Com que objetivo? Consumir depois, quando eu quisesse? Consumir como? Comer, beber, amar? Mas teria que antes diluir na água… Nossa, quanto poder, quanta responsabilidade! Quanta coisa uma palavra pode trazer a tona…
Liofilizar pensamentos, emporificar o pensamento para pensá-lo depois. Seria possível? Isso desafiaria até a própria Filosofia. Mais um gole de vinho. Enquanto a bebida descia, subia à mente a lembrança da água, usada por filósofos gregos como alegoria para pensar o tempo. Heráclito era o filósofo triste porque olhava para a água do rio e entristecia-se porque aquela água que passava ali jamais voltaria a passar novamente.
Demócrito era o filósofo alegre, que ria. Mas ria de tristeza e o riso tinha a mesma razão do choro de Heráclito: a certeza de que a água não voltaria. E se eles liofilizassem a água? E se eles liofilizassem o tempo? E se o tempo pudesse ser parado, suspenso, liofilizado? Se o tempo pudesse ser estocado em vidrinhos de Nescafé, seríamos mais felizes?
Continuei pensando em quem eu liofilizaria, como e porque. Pensei também se alguém me liofilizaria, com e porque. Uma nova rodada de vinho, despertada pelo trincado do gargalo da garrafa na minha taça, fez-me acordar da viagem solitária.
Esse vinho poderia ser liofilizado?, perguntei aos meus amigos químicos. Eles me olharam como se estivesse entendendo o convite para a minha viagem. Mal tiveram tempo de pensar numa resposta para a pergunta provavelmente absurda, continuei: e as pessoas, e os amores, e o tempo? Tomamos mais vinho para maturar aquelas questões. Resolvemos nos fotografar. Transformávamos aqueles instantes para contemplarmo-lo depois. Sem perceber, executávamos uma liofilização daquele vinho e daqueles momentos. Liofilização. As palavras e os encontros têm magia!
Imagem: www.nescafe.com
As palavras e os encontros têm magia. Liofilização. Adorei essa palavra, foi paixão a primeira vista. Ouvi pela primeira vez da boca de uma amiga que disse que provavelmente eu já conhecia o seu significado das aulas de química. Acontece que sempre fui muito mau aluno nas disciplinas das Ciências Naturais, a que eu costumava me referir como se fosse uma tríade que agia contra mim durante a vida escolar: física-quimica-e-mateMÁtica. Assim, não estranhei que, se é que eu a conhecia, não lembrasse seu significado.
Precisei de um encontro com alguns amigos químicos para decantar melhor essa palavra. Liofilização! Achei a palavra tão bonita que desceu mais suave no meu paladar do que um bom vinho português que eu estava bebendo naquela tarde de domingo. “Liofilizar é transformar algo líquido em pó”, disse um deles. “Nescafé”, disse outro. “No laboratório fazemos isso”, disseram também. “Se você quiser, poderá ir lá conhecer como funciona”, propôs outro.
Mas mais do que conhecer, de fato, qual o significado daquela química, a mim me interessava mais tergiversar sobre a questão, filosofar sobre a possibilidade de algo concreto, sólido, poder virar pó, esvaecer.
Incrível maravilha da química! O vinho descia mais suave ainda. Adorava tudo, cada explicação, cada imaginação. Comemorei a possibilidade de ver o processo, mas adorei sobretudo a palavra. Enquanto aquele grupo de amigos falava das possibilidades liofilizicistas, fiquei em silêncio, conjugando o verbo: Eu liofilizo. Tu liofilizas. Ele liofiliza. Mas seria possível liofilizar gente, pessoas? É possível liofilizar os amores, as paixões?
Nós liofilizamos, vós liofilizais, eles liofilizam. Comecei a viajar numa liofilosofia. Pensei o quanto essa palavra é rica, o quanto a simples ideia, tão simples, de uma reação química pode ser rica, despertar pensamentos e possibilidades.
Se eu pudesse liofilizar alguém, quem eu liofilizaria? De quem eu decantaria toda a água e transformaria em pó? Com que objetivo? Consumir depois, quando eu quisesse? Consumir como? Comer, beber, amar? Mas teria que antes diluir na água… Nossa, quanto poder, quanta responsabilidade! Quanta coisa uma palavra pode trazer a tona…
Liofilizar pensamentos, emporificar o pensamento para pensá-lo depois. Seria possível? Isso desafiaria até a própria Filosofia. Mais um gole de vinho. Enquanto a bebida descia, subia à mente a lembrança da água, usada por filósofos gregos como alegoria para pensar o tempo. Heráclito era o filósofo triste porque olhava para a água do rio e entristecia-se porque aquela água que passava ali jamais voltaria a passar novamente.
Demócrito era o filósofo alegre, que ria. Mas ria de tristeza e o riso tinha a mesma razão do choro de Heráclito: a certeza de que a água não voltaria. E se eles liofilizassem a água? E se eles liofilizassem o tempo? E se o tempo pudesse ser parado, suspenso, liofilizado? Se o tempo pudesse ser estocado em vidrinhos de Nescafé, seríamos mais felizes?
Continuei pensando em quem eu liofilizaria, como e porque. Pensei também se alguém me liofilizaria, com e porque. Uma nova rodada de vinho, despertada pelo trincado do gargalo da garrafa na minha taça, fez-me acordar da viagem solitária.
Esse vinho poderia ser liofilizado?, perguntei aos meus amigos químicos. Eles me olharam como se estivesse entendendo o convite para a minha viagem. Mal tiveram tempo de pensar numa resposta para a pergunta provavelmente absurda, continuei: e as pessoas, e os amores, e o tempo? Tomamos mais vinho para maturar aquelas questões. Resolvemos nos fotografar. Transformávamos aqueles instantes para contemplarmo-lo depois. Sem perceber, executávamos uma liofilização daquele vinho e daqueles momentos. Liofilização. As palavras e os encontros têm magia!
terça-feira, 1 de junho de 2010
os eNes de JoeNe
Foto: Enilson Vieira Moraes
quantos eNes são necessários para merecer uma JoeNe?
eNio, eNNy, eNilsoN, eNio cuidaNdo
Noêmia, maNa joêmia, reNata, luciaNo primaNdo
rapha reinaNdo, adoçaNdo
Sendo pouco tais eNes, há outros e outros taNtos
heleNa mimaNdo
larissa, luana amparaNdo
jaNary, jaNary, wilde, joseilda, wilda aprumaNdo
josiaNe, beto chegaNdo
júlia, luíza bricaNdo, abraçaNdo
aracaju, arapiraca, jequié torceNdo
palmeiras, maceió, sampa ligaNdo
peNedo e eNésimo muNdo quereNdo
iNté luso-muNdo, no outro lado do mundo, ardeNdo
tantos eNes de JoeNe, tantos eNes mereceNdo
JoeNe veNceNdo, ganhaNdo
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
As letras, as palavras, os dizeres
Texto e foto: Enio Moraes Júnior
Se as letras pudessem voar
E desse voo caíssem no chão
Formariam seu nome, paixão
Da mais bela forma que se pudessem ajeitar
Se as letras soubessem nadar
Ou se na água fossem embarcação
Atravessariam todo esse mar
E escreveriam o meu nome no seu coração
Mas se as letras não podem voar
E as palavras não sabem nadar
Generosas, elas nos deixam falar
Sendo assim, elas me permitem escrever
Que escrevo para dizer
Que sinto falta de você
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
As unhas, a distância e o tempo
Texto e foto: Enio Moraes Júnior
Sutis, prolongam o toque
Maliciosas, tocam o tesão
Mudam tamanho, cor, admiração
Roídas e curtas, longas e coloridas
Esperam ansiosas chegadas e partidas
Cintilam ao vento ou rezam escondidas
Ousadas, arranham as costas, o coração
Cruéis, beliscam. E julgam ter razão!
Diáfanas, teimosas, milhares
Caras de futuro, de todos os lugares
Cronômetros de pés e mãos
Emergem dos dedos e sem consentimento
Continuam a brotar, a calar, a lutar
Sempre altivas na distância e no tempo
Os pronomes e as mãos
Enio Moraes Júnior
Estas mãos que me seqüestram
Que me embriagam de tanto me querer
Estas mãos que se vão e se vêm
Num meio que meio sem saber
Mãos de seda, de solda, de sou
Mãos de meias, de inteiras, de quase
Essas mãos que me prendem e me perdem
Que e pedem e me espreitam
Essas mãos que se vão
E se vão, vão nesse vão
Mãos de sóis, de luas, de imensidão
Mãos de meias, de inteiras, de tudo
Aquela mãos que me abrem
Que me escutam, que me auscultam
Aquelas mãos que se vão
Que jamais chegarão
Mãos de dúvidas, de sonhos, de solidão
Mãos de inteiras, de meias, de nada
Estas mãos que me seqüestram
Que me embriagam de tanto me querer
Estas mãos que se vão e se vêm
Num meio que meio sem saber
Mãos de seda, de solda, de sou
Mãos de meias, de inteiras, de quase
Essas mãos que me prendem e me perdem
Que e pedem e me espreitam
Essas mãos que se vão
E se vão, vão nesse vão
Mãos de sóis, de luas, de imensidão
Mãos de meias, de inteiras, de tudo
Aquela mãos que me abrem
Que me escutam, que me auscultam
Aquelas mãos que se vão
Que jamais chegarão
Mãos de dúvidas, de sonhos, de solidão
Mãos de inteiras, de meias, de nada
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Poema para ninar Nica
Por Enio Moraes Júnior. Com carinho, para Enny
Imagem: Arquivo pessoal
Quando você menos esperar
Quando a noite esfriar teus pés,
O vento incomodar
A tua lua volta. Ela sempre volta
Ela vai voltar
Tua lua é Virgem, irmã
A outra não importa onde está
Tua lua é vertigem, é sã
Mas o mar que é teu e de Iemanjá
Sempre haverá
Tua lua é teu olhar
O olhar dos olhos da Nica
A desejar
A esperar ‘drinque-tragando’ soslaiamente
A lua que vem pra ficar
Deita-te na tua virgem lua
Sonha teu sonho lunar
Deixa essa moça tão doce
Deixa, Nica
A lua te ninar
Imagem: Arquivo pessoal
Quando você menos esperar
Quando a noite esfriar teus pés,
O vento incomodar
A tua lua volta. Ela sempre volta
Ela vai voltar
Tua lua é Virgem, irmã
A outra não importa onde está
Tua lua é vertigem, é sã
Mas o mar que é teu e de Iemanjá
Sempre haverá
Tua lua é teu olhar
O olhar dos olhos da Nica
A desejar
A esperar ‘drinque-tragando’ soslaiamente
A lua que vem pra ficar
Deita-te na tua virgem lua
Sonha teu sonho lunar
Deixa essa moça tão doce
Deixa, Nica
A lua te ninar
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