Vencendo paradigmas, a educação deve ser um bom casamento a três: professor, aluno e escola (Imagem: reprodução fotográfica de obra de arte)
Enio Moraes Júnior
“O que é necessário, hoje em dia, para preparar uma boa aula?”, resmungou uma colega, professora de um curso de graduação em Comunicação Social em São Paulo. E continuou: “Já tentei de tudo e aqueles alunos não conseguem se interessar”. Ela relatava que já havia levado vídeos, fotos, jornais e cases publicitários para analisar em sala de aula e nada: nenhum fiozinho de resposta, de agrado.
Mas como era apenas um desabafo, deixei que ela falasse, ouvi atentamente. Despedimo-nos e seguimos nossos caminhos para as aulas do segundo horário. Mas não tirei aquele desabafo, aquela inquietação da cabeça.
Pensei que as novas tecnologias, o novo mundo, têm ensejado muitas discussões sobre o novo perfil do aluno, as novas práticas docentes: discutem-se do valor da imagem ao do uso da internet; do poder da interatividade ao uso de recursos multimídia em sala de aula. Mas o fato é que muito pouco tem sido discutido a respeito do professor.
Quem é esse profissional, como ele deve preparar-se para os desafios de novas concepções pedagógicas e didáticas? Que crises ele enfrenta e como isso interfere – e ao mesmo tempo é interferência – da relação que ele estabelece com os aluno e com a escola (donos, diretores etc)? Afinal, o processo ensino-aprendizagem é uma via de muitas mãos, e os todos os lados têm que estar em sintonia.
Além disso, qual o acesso que os professores têm às novas tecnologias de comunicação e de informação, hoje tão celebradas em sala de aula? Como as escolas – sejam públicas ou privadas, de ensino fundamental, médio ou superior – têm estimulado no professor esse novo perfil? Qual o suporte material e profissional que elas têm dado aos seus docentes?
Com base nas conversas que tenho tido com alguns professores e com alunos de pós-graduação, que também são professores – para quem ministro aulas de Educação e Tecnologias da Comunicação em algumas escolas em São Paulo –, arrisco uma resposta: os professores, sobretudo os das escolas públicas, têm pouco ou nenhum acesso às novas tecnologias e as escolas, sejam públicas ou privadas, têm negligenciado as condições técnicas e materiais desse acesso aos docentes.
Autocrítica, aprendizagem, articulação – Retomando o desabafo da minha colega, diria que, hoje em dia, para se preparar uma boa aula é necessário autocriticar-se, aprender sempre e articular forças.
Autocriticar-se é pensar que os tempos estão mudando e que precisamos mudar também, é estar insatisfeito e lidar com isso – talvez seja nessa etapa que esteja minha colega. Mas essa inquietação deve ser percebida e trabalhada de forma positiva, propositiva. Algo de útil deve ser feito com ela, e o melhor a fazer é aprender...
Na sociedade do conhecimento, lidar com as mudanças é aprender a mudar, é assumir que o aprendizado não tem fim, é e deve ser permanente. Mas nesse caminho, é preciso articular outros atores. Os alunos e as escolas têm que ser chamados a assumir suas tarefas, seu compromisso e responsabilidade com a aprendizagem.
Cabe ao aluno ser parceiro do professor na construção das “boas aulas”, mas para isso ele precisa ser convidado, estimulado, por esse professor, a tomar parte nesse processo. Além disso, cabe às escolas realizar investimentos não apenas em tecnologias, mas na aprendizagem e adaptação do professor, para que isso possa retornar ao aluno.
Mas não se pode perder de vista que a palavra educação – que vem do latim educãre (alimentar, criar) e educere (conduzir para fora, tirar) – continua remetendo a um estímulo (alimento) para trazer à tona (condução). Por isso, seja no pensamento dos clássicos greco-romanos, de autores mais recentes, como Carl Rogres ou até mesmo Paulo Freire e Edgar Morin, o ato educativo continua a merecer um ingrediente fundamental das boas receitas: amor.
Mas ressalte-se: não o amor piegas que leva ao comodismo ou à leniência, mas o amor do compromisso com o outro, com o outro-universal, como diz Morin. Esse amor, que é amor-compromisso, amor-responsabilidade, também não é unilateral, não pode ser uma tarefa árdua e sofrida que cabe ao professor.
Trata-se de um amor que precisa ser, na mesma medida, correspondido. É também compromisso e responsabilidade do aluno e da escola que o acolhe para a tarefa que, em tese, lhe é confiada: ensinar. Juntas, articulados no amor-compromisso e no amor-responsabilidade, professores, alunos e escolas encontrarão, inquietos e criativos, o melhor caminho para preparar uma boa aula.
terça-feira, 22 de abril de 2008
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Grande professor, aqui estou, dando uma passada em seu blog.
ResponderExcluirAs aulas terminaram, mas os aprendizados continuam. O pouco que aprendemos nos ajudou a desenvolver principalmente coragem. Junto com outros 2 alunos da Uninove, montamos uma empresa de comunicação e estamos com alguns trabalhos editoriais. Estamos crescendo e trabalhando bastante. Um sinal que aprendemos um pouco do que nossos grandes mestres nos ensinaram. Obrigado pela força. abraços!
Oi professor ...
ResponderExcluirTanto tempo sem sua aula que ja estou sentindo falta viu ... Adorei o texto ... Tem alguns alunos que nao tem jeito mesmo viu ... Nao adiante o professor ser bom nem a faculdade excelente nao é ??? Aposto que voce ja teve varios assim... Ninguem merece !!! Melhorei muito meu blog ... Continuo seguindo as suas dicas ... Da uma passada por ... Voce sabe ne ... Dicas vindas de voce serao sempre bem vindas ...
bjos
Oi professor,
ResponderExcluirvocê tem o dom de traduzir as minhas angústias, as minhas inquietações e joga uma luz para que eu entenda melhor o que acontece, para que eu me entenda melhor. Muito obrigada. Estou aprendendo muito com você.
Silvana/pós-graduação uninove/praticas
Ugrande reflexão fiz aqui no seu texto Ênio, sinto-me até mais aliviada pois sou uma professora inquieta e procuro buscar sempre o caminho para uma boa aula, sei bem das frustrações quando deixamos uma sala e sentimos que não conseguimos dar o recado, a interação não aconteceu.
ResponderExcluirMinha experi~encia no estado com relação ao uso das tecnologias na prática são um tanto frustrantes, mas não desisto, ainda acredito que sempre dá pra fazer algo com o pouco que nos é oferecido, temos que ser criativos, precisamos acreditar e lutar para encontrarmos o caminho para prepararmos uma boa aula.
bjos